Thursday, August 31, 2006


"Quando a arte tornada independente representa o seu mundo com cores resplandecentes, um momento da vida envelheceu e ele não se deixa rejuvenescer com cores resplandecentes. Ele deixa-se somente evocar na recordação. A grandeza da arte não começa a aparecer senão no poente da vida." Guy Debord/A Sociedade do Espectáculo

Wednesday, August 23, 2006

Os orgãos desorientam-se, o corpo está em desatino, mas resistir é o melhor que se tem.A febre do desejo, uma vontade de explosão mas desta vez não se irá dar o primeiro passo. A disponibilidade, recusada, levou à aprendizagem do que nunca se quis saber:controlar o desejo. Sempre pronto mas, por agora, sem iniciativa.Não se corre o risco da rejeição.Se, o corpo que simula o desejo o quiser, terá que se movimentar nesta direcção.

Friday, August 18, 2006

Qualquer coisa para nada...

- O que queres ser quando fores grande?
- Nada!
- Porquê?
- Também é preciso uma razão para ser Nada? Então não quero ser grande.
- Isso é impossivel.
- O que quer dizer impossível?
- Uma coisa que não se consegue ter, fazer...
- Como nada?
- Mais ou menos...
- Se eu conseguir descobrir uma maneira, de ser Nada, tu podes ajudar-me a ser Nada?
- Depende...
- Isso quer dizer o quê?
- Ainda não percebi que Nada queres ser...
- Há vários Nada? Eu só quero ser o Nada número um.
- E se fosses Nada e mais qualquer coisa?
- Assim era parecido com todos os grandes!

Tuesday, August 15, 2006

Abraço II

O piscar de olhos, diferente da piscadela isolada, denuncia a ansiedade. Os braços, que terminam em mãos delgadas, cruzam-se e apertam o peito. A fala, não exprime o que sente o corpo, quer dizer e sentir mais. Nada do que é realmente importante é percebido pela mente ou dito com palavras. Momentos de silêncio, agitação interna, pele que esbarra com o ar, ar que não aquece nem arrefece. Ultrapassar a barreira do ar? A pele noutra pele, o abraço em silêncio e muito fica dito. O que não foi dito, noutro abraço ou na ausência dele, será depois percebido.

Monday, August 07, 2006

Abraço I

Os corpos há muito que se encontraram e penetraram. O afastamento que, agora, se vive apenas existe para os outros. As peles, mesmo que não se toquem, sentem o que por baixo delas é mais do que uma recordação. As cicatrizes, arranhões, mordidas, afagos estão todos catalogados por cima e por baixo da pele. O desejo, agora, fica por isso mesmo. Mas sempre que o encontro é possivel em frente de toda a gente, de forma despodurada, um abraço forte e amigo, sem culpa, com desejo de sentir o corpo e mais uma memória marcar. A vontade de ficar mais tempo com os corpos juntos e o afastar terno. Como pode ser reconfortante um abraço...