Wednesday, April 28, 2010

...de uma prisão qualquer V

Poderíamos passar horas e dias a argumentar sobre as guerras já passadas e as lutas travadas. Entre as que mal nos apercebemos, as que testemunhamos e as que, porque envolvidos, nos tornaram sobreviventes, nenhuma apagou a fúria de transformar.O desejo de ontem mantém-se sem esforço.Com esforço só a contenção, porque a mente adulterada recusa comandar o corpo. Já sem guerra mas sem paz. A luta é pelo recolhimento na trincheira em que os corpos recusam a mistura com os que, como camaleões, vestem a pele fria que arrefece o sangue. Quer-se manter o sangue quente. Sente-se o abraço quente, a palavra de revolta que aquece. Na angústia dos dias, o receio que a vida nos separe.

Sunday, April 25, 2010

"- Há uma nova verdade que nasce - explicou Ulrich.- Logo que alguém encontra o amor, não como uma experiência qualquer, mas como a própria vida, ou pelo menos como uma das formas possíveis dessa vida, passa a conhecer um enxame de verdades. Quem julga sem amor chama a isso pontos de vista, opiniões pessoais, subjectividade, arbitrariedade; e para esses é isso e mais nada. Mas aquele que ama sabe que não é insensível, mas hipersensível à verdade. O seu estado é o de uma espécie de entusiasmo do pensamento no qual as palavras se abrem até ao fundo. E compreende, em todos os sentidos, mais do que seria necessário. Mal consegue defender-se do excesso inesgotável trazido por esse estado. E sente que qualquer desejo de explicar tudo com exactidão só pode afugentar esse outro saber. Não pretendo afirmar que isto seja uma outra forma de verdade, porque verdade só há uma, mas sim que estamos perante uma centena de possibilidades que são mais importantes do que a verdade. Para ser mais rigoroso, é qualquer coisa que leva a que a verdade perca a importância que lhe é atribuída. Talvez se possa dizer que a verdade é o resultado inequívoco de uma atitude para com a vida que de modo nenhum sentimos que seja inequivocamente a verdadeira atitude!"

in O Homem sem Qualidades III- Robert Musil

Thursday, April 08, 2010

The Pleasure of Being Robbed

...Sim, às vezes sofre-se, mas é a única saída decente.