Monday, May 28, 2007

Que linha frágil tornou regular o abuso
do silêncio? Que uso deste a quem, lobo
de si próprio, escondeu a lua atrás
de um pinheiro? Dormias e ao dormires em mim
renasciam os mesmos desejos antigos.

Nervo central, cheio de sangue. Toma-o.
Figura de sombra nuns olhos fechados,
todo o teu silêncio dói, mas é só porque
dantes ele foi sinal de mau agoiro. Não haja palavra
literária nisto, não é preciso.Estala os dedos
e vem, certo como um relógio certo,
amachucar cada uma das minhas convicções.

Sou agora menos do que um fio, já só
a tua goma de alimento suculento, engolido
do nervo principal, de olhos revirados
num teatro espectacular e indeciso.
Pois te receberei também, lívida flor.

Que conselhos te deu o domador
de emoções, quanto lhe pagaste? Que mezinhas
para a alma te receitou? Um gelo
pegou em mim e não me larga.Pelo menos
foi isso que aprendi:olho para o espelho
e não vejo ninguém, só vejo um buraco.

Toquei-te ao de leve como se tivesses
febre, limitaste-te a virar a página
de um livro só com imagens, a lua, alta
e redonda, desenhava conveniências
desesperadas, largava um lastro branco.

Helder Moura Pereira In SEGREDOS DO REINO ANIMAL

Monday, May 14, 2007

Para E...

Segue o teu destino

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

Ricardo Reis

Saturday, May 05, 2007


Será que houve alguma polémica quanto ao nome da cidade?