Monday, May 28, 2007

Que linha frágil tornou regular o abuso
do silêncio? Que uso deste a quem, lobo
de si próprio, escondeu a lua atrás
de um pinheiro? Dormias e ao dormires em mim
renasciam os mesmos desejos antigos.

Nervo central, cheio de sangue. Toma-o.
Figura de sombra nuns olhos fechados,
todo o teu silêncio dói, mas é só porque
dantes ele foi sinal de mau agoiro. Não haja palavra
literária nisto, não é preciso.Estala os dedos
e vem, certo como um relógio certo,
amachucar cada uma das minhas convicções.

Sou agora menos do que um fio, já só
a tua goma de alimento suculento, engolido
do nervo principal, de olhos revirados
num teatro espectacular e indeciso.
Pois te receberei também, lívida flor.

Que conselhos te deu o domador
de emoções, quanto lhe pagaste? Que mezinhas
para a alma te receitou? Um gelo
pegou em mim e não me larga.Pelo menos
foi isso que aprendi:olho para o espelho
e não vejo ninguém, só vejo um buraco.

Toquei-te ao de leve como se tivesses
febre, limitaste-te a virar a página
de um livro só com imagens, a lua, alta
e redonda, desenhava conveniências
desesperadas, largava um lastro branco.

Helder Moura Pereira In SEGREDOS DO REINO ANIMAL

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