Saturday, December 18, 2004

O absolutismo da maioria I

“Às vezes parece-me que uma epidemia pestífera atingiu a humanidade na faculdade que mais a caracteriza, ou seja, o uso da palavra...e acrescentarei que não é só a linguagem que me parece atingida por esta peste. Também as imagens, por exemplo.
Mas talvez a inconsistência não esteja só nas imagens ou só na linguagem: está no mundo. A peste também atinge a vida das pessoas e a história das nações, torna todas as histórias informes, casuais, confusas, e sem pés nem cabeça... “(
Italo Calvino in Seis propostas para o próximo milénio)

Talvez, porque as minorias encerram em si algo atractivo, o apelo às maiorias absolutas para a “desgovernação” sejam tão pouco atractivas. Agora, como noutras alturas, aquele apelo volta a”zumbir” nos ouvidos. A ideia de um parlamento como recinto de discussão, debate, convicções é posta de lado em nome de uma suposta aplicação de um programa que só pode ser aplicado se o fôr na sua forma absoluta. Ao terem a tão desejada maioria absoluta quem vão os seus detentores ouvir? Ninguém. O debate será pouco mais que um folclore da democracia. Aqueles que não entenderem a utilidade de um partido pôr e dispôr das suas vidas verão, com este cenário, o seu voto inutilizado. É uma bela armadilha- escolhe-se mas não se é ouvido.
Com os governos minoritários pode-se governar mas tem que se ouvir, discutir com os outros, argumentar, chegar a consensos. O que parece é que não se sabe ou não se quer, atendendo á mediocridade que nos atola, argumentar, discutir, reconhecer que não se é detentor da verdade absoluta.


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