Thursday, February 03, 2005

Sou apenas um daqueles insignificantes
que da cela vê o mundo
e que, mais distante dos homens do que das coisas,
não ousa ponderar aquilo que acontece.
Porém, se me quiseres frente ao teu rosto
do qual, escuros, sobressaem os teus olhos
não tomes então por minha altivez
se te disser: Ninguém vive a sua vida.
Os homens são acasos, vozes,
quotidianos, angústias, muitas felicidades pequenas,
disfarçados, já enquanto crianças, mascarados,
como máscaras emancipadas, como rostos - emudecidos.

Penso com frequência: tesouros devem ser
onde todas estas vidas se encontram
como couraças ou liteiras ou berços,
onde um verdadeiro ser jamais entrou,
e como trajes que por si só
não se conseguem manter em pé e que, caindo,
docilmente deslizando por paredes fortes de pedra arqueada.

E, se à noite eu continuasse
para além do meu jardim, no qual fatigado me encontro,
eu sei: todos os caminhos vão dar então
ao arsenal das coisas não vividas.
Aí não há qualquer árvore, como se a terra se deitasse,
e, como que à volta de uma prisão, pendesse a parede,
de qualquer desprovida, em forma de anel séptulo.
E os seus portais com ganchos de ferro
combatendo aqueles que aí anseiam,
e as suas grades de mãos humanas são.

Rilke

Enviado por uma amiga que partilha da sorte de conhecer mais do que os santanas, sócrates e outros que tais deste mundo, mundo que é interessante, apesar de certos seres desinteressantes que o habitam...
Vale a pena cruzar certas esquinas e encontrar pessoas que tornam esta existência mais rica.Obrigado Amiga!

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