Thursday, December 15, 2005

Entre quase lágrimas e alguns sorrisos...

Às vezes me volta esse pensamento: ando perdido no mundo, na imensidão duma profunda madrugada: minhas estórias onde procuro morrer fosse um louva-deus nos actos carnais do amor:atrevimento de morte, estória e tristeza no acabar de contar.Te pus, te ponho: os olhos brilham mais é na escuridão; pirilampo espera noite pra ser alguém; peixe fica seco é dentro d'água, fora dela é que ele transpira de morte; etecetera, muadiê, pra te dizer: de noite é que perco a vergonha de ser eu mesmo e abro as torneiras do imaginado: meu coração de ser assim, contador.Pouca inventice, transformo só o material pra lhe dar forma, utilidade. O artista molha as mãos pra trabalhar o destino do barro? Eu molho o coração no álcool pra fazer castelo das areias em cima das estórias..., e o mô espelho são as madrugadas.
Uma noite, quantas madrugadas tem? Andas a contar? Eu não.Lhes apanho só, conforme lhes vejo e sinto. Atrevo: uma só noite tem bué de madrugadas; cada uma dessas madrugadas tem bué de brilhos. Confesso-me aqui, nos lábios da sinceridade: gosto muito disso- acreditar no impossível das palavras, lhes maltratar no português delas, ser livre na boca das estórias e me deixar tar aqui, sentado dentro de mim, abismático. E sonhar!,sonhar até chegar nesse quintal onde dentro de mim nascem barulhos e não só: nascem brilhos.Vejo búzios que riem à toa e aprendo: posso descansar as vozes como se fossem conchas de pousar na areia depois de lhes apanhar numa noite de lua brilhante.Depois do barulho das vozes os búzios se calam e eu, no respeito, me calo também.
Sabes, muadiê, aí sobram só as calmarias da noite.É aí que logo-logo começam a rebentar devagarinho os brilhos, os brilhos da madrugada. Falei ou disse?

Ondjaki in Quantas madrugadas tem a noite

1 Comments:

Blogger MRA said...

Disseste ...anos ou momentos, lágimas em vez de palavras, quantas coisas não passam pelas linhas de uma prosa.
Se há mágicos, se existe a porra de uma milionésima grama de magia, ela está nas palavras que, escritas entre as estrelas, nos crepitam cá dentro á espera de um qualquer raio de sol para navegar...

3:16 AM  

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