Friday, January 27, 2006

MOZART

A lembrança é de refeições longas, um nunca terminar de assuntos para discutir, aprendizagem a todo o momento. Bebia-se as palavras, mastigava-se os raciocínios e vibrava-se com a troca de argumentos. Havia lugar para a utopia, a ingenuidade era permitida e os sorrisos eram a imagem de quem sabia que também já havia sido assim. Já os cigarros ou charutos estavam acessos, os balões aqueciam para o conhaque e as "tréguas" eram pedidas.
- Põe o Mozart- sabia a que se referia. Ao colocar o vinil sabia que o braço do prato, em grafite, deveria ir para o "andante". Por provocação depositava-o no "allegro maestoso" e era sempre corrigido.
Hoje a preocupação é com o acelerador da radioterapia. O prato do gira- discos ganha pó e já não há conhaque. Há dores e , ao ouvir Wolfgang Amadeus Mozart - Piano Concerto No.21, KV 467 (andante), soltam-se-me as lágrimas que ainda existem.

Thursday, January 26, 2006

HAMAS! E agora?

Guerra civil? Mais uma intervenção israelita? O Irão a estender a sua influência? Fim da Palestina?

Tuesday, January 24, 2006

...
- Gosta do que vê? Pode descrever-me?
- É a Bailarina Acrobata de Matisse. Por vezes parecem flores, outra vezes o olhar prende-se no ritmo, para de seguida procurar o centro de gravidade que o pintor estabeleceu e a bailarina parece não respeitar. O corpo flutua entre movimentos de aquecimento e acrobacias complexas. Há um momento de paragem no movimento acrobático e então o olhar da bailarina cai sobre nós.
Novamente o silêncio. Os olhos fixam os óculos que escondem os olhos que já não vêem. O cheiro, a perfume, agrada mais. Apetece tocar a mão que mal se sentiu. Sente-se o interior do corpo e só o outro corpo se quer sentir. Mostrar o que aqueles olhos não podem ver. Guiar as mãos e olhos, deixar cheirar e apreciar. Deixar o corpo falar e ser ouvido.

Tuesday, January 17, 2006

"Apesar da minha melancolia incompreensível nunca consegui levar nada realmente a sério"

Strindberg " Para Damasco"

Friday, January 13, 2006


2006 e mais uma aventura...o sol quando nasce

Thursday, January 12, 2006

A pedido...

Soneto nº15
Do uso das palavras obscenas

Desmedido eu que vivo com medida
Amigos, deixai-me que vos explique
Com grosseiras palavras vos fustigue
Como se aos milhares fossem nesta vida!

Há palavras que a foder dão euforia:
Para o fodidor, foda é palavra louca
E se a palavra traz sempre na boca
Qualquer colchão furado o alivia.

O puro fodilhão é de enforcar!
Se ela o der até se esvaziar: bem.
Maré não lava o que a árvore retém!

Só não façam lavagem ao juízo!
Do homem a arte é: foder e pensar.
(Mas o luxo do homem é: o riso).


Bertolt Brecht Da sedução Poemas Eróticos com gravuras de Pablo Picasso. Bizâncio

Tuesday, January 10, 2006

A tarde já se despede, as pernas ainda se tocam, os olhares cruzam-se e os lábios entreabrem-se num convite ao toque. De olhos bem fechados as imagens isoladas do corpo, despido e retesado, são transformadas em cenas de um qualquer filme. Somam-se imagens de envolvimento dos corpos, humidades, viscosidades, desfalecimentos e gritos. E quer-se continuar a ver. Vivê-lo de outra forma. Sem o toque.A carne estimula o cérebro e vice-versa. Carne inteligente!

Sunday, January 08, 2006

Hábitos de amar

Não é exacto que o prazer só perdura.
Muita vez vivido, cresce ainda mais.
Repetir as mil versões prévias, iguais
É aquilo que a nossa atracção segura:

O frémito do teu traseiro há muito
A pedi-las! Oh, a tua carne é ardil!
E a segunda é, que traz venturas mil,
Que a tua voz presa exija o desfruto!

Esse abrir de joelhos!Esse deixar-se coitar!
E o tremer, que à minha carne sinal solta
Que saciada a ânsia, logo te volta!
Esse serpear lasso! As mãos a buscar-
-Me.Tu a sorrir!
Ai, vezes que se faça:
Não fossem já tantas, não tinha tanta graça!



Bertolt Brecht Da Sedução/Poemas Eróticos com gravuras de Pablo Picasso- Bizâncio

Friday, January 06, 2006

Disse MRA...

Disseste ...anos ou momentos, lágimas em vez de palavras, quantas coisas não passam pelas linhas de uma prosa.Se há mágicos, se existe a porra de uma milionésima grama de magia, ela está nas palavras que, escritas entre as estrelas, nos crepitam cá dentro á espera de um qualquer raio de sol para navegar...


( comentário ao post 15/12/06) Thanks!

Wednesday, January 04, 2006

Cinza Ardente

Por qualquer dever cívico procuramos alertar os outros para o que pensamos ser prejudicial à sua vida. Solidarizamo-nos com as naúseas, enxaquecas, fome exagerada ou aumento de peso no processo traumático de abandono de uma dependência. A mistura de sentimentos, as posições assumidas e a assumir com as "novas regras" que se adivinham, levantam a questão da liberdade individual e crença na sã convivência entre ser pensantes. Se há os que resolvem, sem qualquer pressão legislativa ou de companhia de seguros parar de fumar, outros há que circunstâncias da vida os privaram de tal. Essa privação é a privação de um prazer. Prazer que mata, dirão alguns, mas prazer.Porque se fala de tabaco os malefícios, para a saúde, surgem-nos inquestionáveis. Outras questões se levantam neste momento. Momento em que à pergunta sobre o que se sentia, agora que já não se fumava, a resposta foi:uma enorme tristeza. A tristeza era visível no olhar. A tristeza também pode matar.