"- Há uma nova verdade que nasce - explicou Ulrich.- Logo que alguém encontra o amor, não como uma experiência qualquer, mas como a própria vida, ou pelo menos como uma das formas possíveis dessa vida, passa a conhecer um enxame de verdades. Quem julga sem amor chama a isso pontos de vista, opiniões pessoais, subjectividade, arbitrariedade; e para esses é isso e mais nada. Mas aquele que ama sabe que não é insensível, mas hipersensível à verdade. O seu estado é o de uma espécie de entusiasmo do pensamento no qual as palavras se abrem até ao fundo. E compreende, em todos os sentidos, mais do que seria necessário. Mal consegue defender-se do excesso inesgotável trazido por esse estado. E sente que qualquer desejo de explicar tudo com exactidão só pode afugentar esse outro saber. Não pretendo afirmar que isto seja uma outra forma de verdade, porque verdade só há uma, mas sim que estamos perante uma centena de possibilidades que são mais importantes do que a verdade. Para ser mais rigoroso, é qualquer coisa que leva a que a verdade perca a importância que lhe é atribuída. Talvez se possa dizer que a verdade é o resultado inequívoco de uma atitude para com a vida que de modo nenhum sentimos que seja inequivocamente a verdadeira atitude!"
in O Homem sem Qualidades III- Robert Musil
2 Comments:
Dizias que neste livro e nos outros dois volumes, ao abri-los em qualquer página, encontraria-se sempre algo de interessante para ler...bom exemplo disso é o que transcreveste.
Eu não teria dito melhor...
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