Vários pensamentos ocorriam. Pedro nunca tinha feito um esforço para manter a família. Sempre havia sido ponto assente na sua cabeça, que ou ela se mantinha por si ou não seria mantida pelo seu esforço. Apercebia-se, agora, que não se tinha mantido. Outra coisa existia e os deixava viver. A substituição do que parecia ter havido era algo que percebia. Já do que tinha havido antes mal se recordava. Silêncios, ausências e grandes dependências.
- Já cá estou- sorria Diana a olhar para Pedro, encostada à porta com os braços caídos junto ao corpo, deixando a mala prolongar o braço esquerdo quase até ao chão. A linha descrita, era de uma elegante simplicidade. Do ombro até à mala estava a imagem do que Diana simbolizava para Pedro- uma enganadora fragilidade. Os ossos pareciam ser a única coisa que suportava a pele, esta, de uma brancura tal que realçava uns olhos claros de cor indefinida e por vezes gélidos. O cabelo preto, molhado, começava agora a dar lugar a um cinzento maioritariamente concentrado do lado esquerdo. Levou a mão direita ao pescoço, num gesto característico, para aliviar qualquer tensão..
- Cansada? Foi dura a noite? Perguntou Pedro.
- De uma forma ou de outra, aonde quer que esteja, as minhas noites são sempre duras- dirigiu-se para o fogão e de caminho poisou os lábios na testa de Pedro, descobrindo de seguida a chaleira vazia.
- Vai tomar banho que te faço o chá – murmurou Pedro.
- Obrigada, mas vou directa do banho para a cama. Vais pintar hoje?
- Faltam-me cores...
Os olhos de Diana surpreenderam os de Pedro marejados de lágrimas. Por momentos teve uma grande sensação de perda. O que se tinha perdido?
(continua)