Thursday, June 30, 2005
a beleza dos dias,às vezes...
Onde morrem os pássaros? Onde morrem,
que os não vejo morrerem na proporção
em que nascem? São milhares, e no jardim
defronte da minha casa nem sequer há
muita vegetação. Onde morrem os pássaros?
Vieste no meio de um arbusto, ó esfinge, ó
estátua, tens um coração no meio
dessa pedra toda? Então entrega-te
a este coração, ele vem de longe, de muito
longe, de tão longe que se esqueceu
do seu nome, bate depressa e devagar
como um vulgar coração, apressa-se
e anda lento, respira fundo e por vezes vai
por ali fora como um cavalo com o freio
nos dentes, dele não se poderá ter pena.
Mas a importante questão dos pássaros,
cada vez mais persistente por causa
de mais um copo de vinho, põe-nos a olhar
para o céu, para as nuvens que vão
passando, na tentativa de ver cemitérios
aéreos. Onde morrem os pássaros?
Será que a terra os come, a água os leva?
Ah, não, desfazem-se no ar, ou são levados
pelas nuvens, as suas penas dão a cor
da chuva, tudo morre num pássaro
menos as asas, e aí vão elas, puxando
as nuvens pelos ares. Pássaros eternos,
voam para o céu nos meus olhos de miragem?
Tu és real, estás aqui e tens ossos, pálpebras
e fogo próprio, tu és a fonte metafórica
da existência, o deus, a deusa, a doença
incurável, o mal da alma, tu representas tudo.
A palavra amor já me arranha a garganta
e se junta com a palavra adeus então
sai um som que não se põe em música.
HMP
que os não vejo morrerem na proporção
em que nascem? São milhares, e no jardim
defronte da minha casa nem sequer há
muita vegetação. Onde morrem os pássaros?
Vieste no meio de um arbusto, ó esfinge, ó
estátua, tens um coração no meio
dessa pedra toda? Então entrega-te
a este coração, ele vem de longe, de muito
longe, de tão longe que se esqueceu
do seu nome, bate depressa e devagar
como um vulgar coração, apressa-se
e anda lento, respira fundo e por vezes vai
por ali fora como um cavalo com o freio
nos dentes, dele não se poderá ter pena.
Mas a importante questão dos pássaros,
cada vez mais persistente por causa
de mais um copo de vinho, põe-nos a olhar
para o céu, para as nuvens que vão
passando, na tentativa de ver cemitérios
aéreos. Onde morrem os pássaros?
Será que a terra os come, a água os leva?
Ah, não, desfazem-se no ar, ou são levados
pelas nuvens, as suas penas dão a cor
da chuva, tudo morre num pássaro
menos as asas, e aí vão elas, puxando
as nuvens pelos ares. Pássaros eternos,
voam para o céu nos meus olhos de miragem?
Tu és real, estás aqui e tens ossos, pálpebras
e fogo próprio, tu és a fonte metafórica
da existência, o deus, a deusa, a doença
incurável, o mal da alma, tu representas tudo.
A palavra amor já me arranha a garganta
e se junta com a palavra adeus então
sai um som que não se põe em música.
HMP
Tuesday, June 28, 2005
Amesterdão IV
A zona não é tão movimentada.O movimento parece ser mais de nativos do que de estrangeiros. Estamos mais longe do centro e sente-se uma atmosfera aconchegante. são alguns os restaurantes que se encontra e apetece experimentar.Escolhe-se pelo aspecto.Éénvistwéévis é o nome do restaurante.Uma cortina de veludo dá entrada ao que de fora se tinha visto, mas não sentido. Ouve-se ópera e conversas animadas. Nas paredes quadros e fotografias de músicos ou cenas de jazz.Os candelabros parecem dançar.Tudo é tranquilo e belo.O empregado, pensa-se, o dono do restaurante aproxima-se e uma folha de papel,escrita em caligrafia cuidada, diz-nos o que se poderá comer.Tudo está escrito em holandês!Não estamos numa zona turística. Precisamos de tradução. Ela chega-nos com toda a amabilidade. Ficamos a saber que o nome do restaurante quer dizer qualquer coisa como" um peixe, dois peixes" ou "peixe mais peixe". O forte aqui é o peixe.Melhor? Do atum ao salmão não se sabe o que escolher.Tudo será servido e acompanhado com requinte e simplicidade. O vinho da casa poderia ser melhor, quando comparado com a comida. Agora a música é alterada e os primeiros acordes de Cesaria Évora homenageiam-nos. Simpáticos e conhecedores!Sabem o que é Portugal e era o que mais perto tinham. A frase que ocorre, sem nada mais que o vinho a funcionar- está-se muito bem! Tudo é agradável. O dia seguinte é de partida.Ficaram para trás dias intensos.Um passeio pelos canais com vistas deslumbrantes, umas caminhadas pela cidade sem destino e muito mais. Muito mais há para ver...viver.
Friday, June 24, 2005
Amesterdão III -Movimento total
" O bailarino retoma o seu corpo nesse momento preciso em que perde o seu equilíbrio e se arrisca a cair no vazio..."José Gil in O Movimento total- o corpo e a dança
Egon Schiele, profundamente influenciado por Gustav Klimt , faz da expressão de emoções pessoais o seu objecto de trabalho.A prevalência de motivos eróticos, o retrato do corpo na sua expressão erótica e a revelação das emoções mais interiores fazem com que o corpo tome uma dimensão expressiva cativante.Tudo isso nos é dado a conhecer na exposição no museu Van Gogh cujo percurso da exposição nos levará à performance criada por Marina Abramovic e a Dansgroep Kristina de Chatel.Ainda estamos a absorver o que os quadros nos provocam e já uma bailarina numa atitude provocativa do uso do corpo e sua resistência permanece num movimento inalterável sentada em cima de uma bola saltando ininterruptamente. Está visto que o corpo será explorado até limites que não se vislumbram. A ligação do trabalho das coreógrafas com Schiele tem um ponto em comum- o fascínio pelas formas humanas.
Gradual and persistent loss of control com a música da pianista Tomoko Mukaiyama será uma experiência comparável a Pina Baush, Anne Thérese de Keersmaeker ou outros nas suas apresentações. O corpo vai perder o controlo ou talvez não.No mesmo momento bailarinos entram num estado de ocupação do espaço que se expande ou limita. Enquanto uns rodopiam em movimento controlado e rígido outros "percorrem " as formas de alongamento e libertação do corpo.A pianista faz a sua entrada em tronco nu e veste-se para tocar! Poderemos escolher o que queremos entender. Dizia Pina Baush" pode sempre ver-se também o contrário" a propósito das possiveis interpretações de uma situação das suas peças. Aqui, com Abramovic, sentimos isso mesmo.Com o corpo tudo é possivel. Há experiências que temos de viver para perceber. Se vier a Lisboa, quero rever.Estar em Amesterdão, assistir a uma performance como aquela podia ser o fecho com chave de ouro desta estadia.Celebra-se corpo e espírito. Sentimo-nos a flutuar. Depois disto, o último jantar.O restaurante chama-se éénvistwéévis.Esperem pelo menu:)
Egon Schiele, profundamente influenciado por Gustav Klimt , faz da expressão de emoções pessoais o seu objecto de trabalho.A prevalência de motivos eróticos, o retrato do corpo na sua expressão erótica e a revelação das emoções mais interiores fazem com que o corpo tome uma dimensão expressiva cativante.Tudo isso nos é dado a conhecer na exposição no museu Van Gogh cujo percurso da exposição nos levará à performance criada por Marina Abramovic e a Dansgroep Kristina de Chatel.Ainda estamos a absorver o que os quadros nos provocam e já uma bailarina numa atitude provocativa do uso do corpo e sua resistência permanece num movimento inalterável sentada em cima de uma bola saltando ininterruptamente. Está visto que o corpo será explorado até limites que não se vislumbram. A ligação do trabalho das coreógrafas com Schiele tem um ponto em comum- o fascínio pelas formas humanas.
Gradual and persistent loss of control com a música da pianista Tomoko Mukaiyama será uma experiência comparável a Pina Baush, Anne Thérese de Keersmaeker ou outros nas suas apresentações. O corpo vai perder o controlo ou talvez não.No mesmo momento bailarinos entram num estado de ocupação do espaço que se expande ou limita. Enquanto uns rodopiam em movimento controlado e rígido outros "percorrem " as formas de alongamento e libertação do corpo.A pianista faz a sua entrada em tronco nu e veste-se para tocar! Poderemos escolher o que queremos entender. Dizia Pina Baush" pode sempre ver-se também o contrário" a propósito das possiveis interpretações de uma situação das suas peças. Aqui, com Abramovic, sentimos isso mesmo.Com o corpo tudo é possivel. Há experiências que temos de viver para perceber. Se vier a Lisboa, quero rever.Estar em Amesterdão, assistir a uma performance como aquela podia ser o fecho com chave de ouro desta estadia.Celebra-se corpo e espírito. Sentimo-nos a flutuar. Depois disto, o último jantar.O restaurante chama-se éénvistwéévis.Esperem pelo menu:)
Thursday, June 23, 2005
Entre umas bafuradas , com o mar escuro ao fundo, Miles dialogando com Coltrane...a vida está "viva"!
Friday, June 17, 2005
"...Noite imensa sem gritos.Pior que sofrer é não sofrer- para sempre.É nunca mais sentir.É ter as órbitas vazias voltadas para o céu e nelas reflectir a luz das estrelas.Mais um passo e é o silêncio absoluto.Mais um passo e tapas-me para sempre a boca." Raul Brandão, Húmus
Wednesday, June 15, 2005
Amesterdão II
Andar pelas ruas de Amesterdão, sem destino, leva-nos sempre a um destino. Jordaan é a zona em que a manhã começa.Se fosse possivel escolher seria ali que queria viver. A atmosfera respira descontração.Os cafés convidam ao “relax”, com as suas almofadas a improvisar esplanadas. Rembrand e discípulos esperam.Contudo é Vermeer, novamente, que arrebata. O calor é menos intenso.Se se decide a meio caminho procurar um famoso clube, olha-se para o mapa e entra-se na artéria que se pensa levar-nos-á até lá. A movimentação da rua é grande e sem razão aparente corta-se para a esquerda e está-se noutra rua.Olha-se á volta e quase há silêncio. Olha-se para a arquitectura e os edificios inclinados continuam a captar a nossa curiosidade.Espanto dos espantos, afinal, por acaso ou sabe-se lá porquê esta era rua que se queria.Entra-se numa loja para pedir informações sobre o tal restaurante/clube.A “leveza” e espontâneadade da jovem cidadã que fala, quase é um convite apetece ali permanecer e mais ouvir.Já não há interesse em ir ao tal clube.Não é aquele tipo de acção que se procura.Dever-se-ia estar cansado mas, o corpo tem resistências que não sabemos.O corpo! São vários os corpos que captam o olhar.Bronzeados e pouco cobertos.A temperatura quente fica-lhes bem.Porém, muito ainda está para vir.E o corpo, muito será falado.
Tuesday, June 14, 2005
Monday, June 13, 2005
"...Perversão das democracias, intoxicação , manipulação do eleitorado por um espectáculo de ilusões? Sim e não , porque se é exacto que existe realmente um marketing político programado e cínico, é igualmente correcto dizer que as vedetas políticas não fazem senão adaptar-se ao habitus pós-moderno do homo democraticus..."Gilles Lipovetsky “ A Era do Vazio”
Seria disto que Sócrates falava?Os espelhos já existem há algum tempo!
Seria disto que Sócrates falava?Os espelhos já existem há algum tempo!
Adeus
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.
Já gastamos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.
Já gastamos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade
Até sempre, camarada
Conta-se de uma prisioneira algures em África, a quem se ofereceu leite, que recusou dizendo: os verdadeiros comunistas não bebem leite!Hoje pergunto, será que choram?Creio que sim. É provável que não se vejam lágrimas nos rostos ligados ao homem, mas as lágrimas e os gritos estão lá.Oito anos de isolamento numa cela,uma convicção inabalável, um sonho desfeito, uma luta contínua. Quantos de nós aguentariam? Provavelmente ouvir-se-á a Internacional, o vermelho será a cor dominante, honras lhe serão prestadas, mas o que fica é o passado de quem não quis, não pôde ou não foi capaz de viver o futuro, dialeticamente. Hoje sonha-se não com os ontens que cantam, nem com a fé dos crentes, nem com amanhãs sem luta. A Luta continua, mas não vou por aí, Camarada!
“ Não queremos um mundo onde a garantia de não morrer de fome se tranforme em certeza de morrer de tédio” Vaneigem
“ Não queremos um mundo onde a garantia de não morrer de fome se tranforme em certeza de morrer de tédio” Vaneigem
Saturday, June 11, 2005
Ad vomitus
A exposição da felicidade ou da família "feliz" é um espectáculo que, ao passar o privado para o público, normalmente é deprimente e de grande vulgaridade. O uso e abuso de imagens familiares em contextos de "venda" de um qualquer produto é cada vez mais próprio de politícos e não só.O que pretende Carrilho com aquele vídeo de apresentação de candidatura?Mostrar que tem uma família?Não gostava que fosse preciso ter família para ser presidente da câmara!Pretende passar a ideia que a felicidade familiar é resultado de uma capacidade de liderança em casa e como tal pode liderar a câmara?Degradante!Sabemos que isto não vai bem...
"Era do vazio"?Saberá Sócrates do que fala?Ficava bem na fotografia e fazia figura.Se a opção é sair do vazio para passar ao tédio,que algo nos livre de tal. O espectáculo está em marcha.Debord sabia do que falava.Isto ainda acaba mal...
"Era do vazio"?Saberá Sócrates do que fala?Ficava bem na fotografia e fazia figura.Se a opção é sair do vazio para passar ao tédio,que algo nos livre de tal. O espectáculo está em marcha.Debord sabia do que falava.Isto ainda acaba mal...
Tuesday, June 07, 2005
Amesterdão I
Não é o ínicio nem o fim, mas sim o processo, que se percorre entre um ínicio e certo fim que alimenta o interesse em iniciar, provocar, construir, destruir, conhecer. A chegada é pouco importante, quando o fim não preocupa.
A rapidez com nos deslocamos do aeroporto de Schipol para o centro da cidade é pouca comparada com a ansiedade que se vive.Largadas as malas, desta vez chegaram, o deambular pelas ruas sem destino dá o mote para a “liberdade” de movimentos que se quer viver.As ruas fervilham, a temperatura é agradável e estranhamente muita gente bronzeada cruza os caminhos. Andar é o que apetece. Parar, só para olhar e comer. Comida grega é a escolha deste primeiro dia. O local é agradável e acolhedor. Dormir, não apetece. O dia seguinte será de caminhada em direcção ao Museu Van Gogh.Pelo caminho, sem nos apercebermos, estamos entre a Reflex New Art Gallery.De um lado e outro da rua Fotografias de David Lachapelle “puxam” os pés na sua direcção.Um mês antes Nabuyoshi Araki ocupava aquele espaço. É arte urbana, para os “urbanos”. Egon Schiele é anunciado no Van Gogh e mais do que as suas telas, em que o corpo nas suas mais extremas formas de expressão é fonte de inspiração, performances de Marina Abramovic e o Dansgroep Krisztina de Châtel – Gradual and Persistent Loss of Control – apelam para a participação numa experiência que mais tarde se viverá.
A rapidez com nos deslocamos do aeroporto de Schipol para o centro da cidade é pouca comparada com a ansiedade que se vive.Largadas as malas, desta vez chegaram, o deambular pelas ruas sem destino dá o mote para a “liberdade” de movimentos que se quer viver.As ruas fervilham, a temperatura é agradável e estranhamente muita gente bronzeada cruza os caminhos. Andar é o que apetece. Parar, só para olhar e comer. Comida grega é a escolha deste primeiro dia. O local é agradável e acolhedor. Dormir, não apetece. O dia seguinte será de caminhada em direcção ao Museu Van Gogh.Pelo caminho, sem nos apercebermos, estamos entre a Reflex New Art Gallery.De um lado e outro da rua Fotografias de David Lachapelle “puxam” os pés na sua direcção.Um mês antes Nabuyoshi Araki ocupava aquele espaço. É arte urbana, para os “urbanos”. Egon Schiele é anunciado no Van Gogh e mais do que as suas telas, em que o corpo nas suas mais extremas formas de expressão é fonte de inspiração, performances de Marina Abramovic e o Dansgroep Krisztina de Châtel – Gradual and Persistent Loss of Control – apelam para a participação numa experiência que mais tarde se viverá.